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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Resenha : Como ser uma mulher .

* Resenha : Como ser uma mulher .
Título: Como ser mulher: um divertido manifesto feminino
Autora: Caitlin Moran
Editora: Paralela
Número de páginas: 240
Crescemos assistindo a contos de fadas, os quais princesas são referências de beleza e conduta. Porém, na década que passou, o que vimos foram magias, personalidades e características mudarem: de ‘Cinderelas’ à princesas ativas, corajosas e lutadoras. Princesas que salvam príncipes. Fionas. Talvez, um pouco mais como nós. Em uma linguagem direta e descontraída, a autora Caitlin Moran resgata lembranças e situações de sua própria vida para falar sobre princesas, mas também detalhes típicos da vida de uma mulher (e as dificuldades de uma ‘verdadeira’ princesa): menstruação, mudanças no corpo, amor, casamento, gravidez, filhos. Um relato bastante abrangente de todas às vezes em que eu tinha muito pouca ou, em muitos casos, nenhuma ideia... de como ser mulher. (página 16)
É realmente muito importante que você diga essas palavras em voz alta. “SOU FEMINISTA”. Se você acha que não consegue — nem mesmo com os pés nos chão —, eu ficaria preocupada. Essa é provavelmente uma das coisas mais importantes que uma mulher tem a dizer na vida, além de “Eu te amo”, “É menino ou menina?” e “Não! Eu mudei de ideia! Não corte a minha franja!”. (página 56)
Caitlin Moran, a autora, é jornalista britânica e colunista no jornal inglês The Times. Caitlin, durante o livro, respeita uma linearidade dos fatos e experiências reais (da sua infância à fase adulta), passando por momentos em que foi considerada pouco feminina (na adolescência), e todo o processo de reconhecer-se e, principalmente, defender a sua feminilidade. Com opinião formada e bom humor, ela também aborda temas mais fortes como masturbação, sexo e aborto. Ao final de ‘Como ser mulher’, no ‘Pós-escrito’, faz uma conclusão muito bem posicionada que fica clara a noção de ‘ser feminista’: muito além da queima de sutiã, o ‘ser feminista’ está na defesa e na busca por mais mercados, poder de escolha e variedade. Quero que as mulheres tenham mais do mundo para si, não só porque seria justo, mas porque seria melhor. (página 230)
‘Como ser mulher’ traz à tona particularidades e questões da modernidade que abrem os nossos olhos para uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto. Confesso que livros assim, trabalhados em cima de relatos reais, são mais cansativos para mim. Exigem mais tempo, porque a leitura não é tão fluida, apesar dos pontos acentuados de humor (e isso, de novo, sob o meu ponto de vista!). Mas, apesar disso, tudo fica mais interessante pela naturalidade da autora. Aos 35 anos, tenho duas filhas, paguei metade da hipoteca da minha casa, fiquei bêbada com Lady Gaga, preparo meu próprio guacamole, consigo fazer trinta segundo da parte fácil da dancinha de “Single Ladies”, tenho duas opiniões contrárias a respeito da globalização, sei fazer a manobra de Heimlich e uma vez fiz 420 pontos nas palavras-cruzadas. (página 155) As histórias um tanto malucas, os dramas e as lembranças de Caitlin se encontram em um ponto-chave do livro: a honestidade. Há um tom realístico e ‘pé no chão’ em sua opinião que me agrada muito, além das questões tão importantes trabalhadas e bem desenvolvidas. 

Vocês curtem leituras com relatos reais? Já leram algum livro com a mesma abordagem/ tema?

O que é feminismo? Simplesmente a crença de que as mulheres devem ser tão livres quanto os homens, por mais loucas, burras, delirantes, malvestidas, gordas, retrógradas, preguiçosas e presunçosas que sejam. Você é feminista? Há, há, há. Claro que sim. (Caitlin Moran, trecho do livro ‘Como ser mulher’, página 68)

Resenha : Fale .

* Resenha : Fale .
[Então, por que é que todo mundo acha que é o fim do mundo eu não falar? Talvez não queira me autoincriminar. Talvez não goste do som da minha voz. Talvez não tenha nada a dizer. -página 181]
Título: Fale!
Autora: Laurie Halse Anderson
Editora: Valentina
Número de páginas: 248
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (excelente)
Assuntos abordados: depressão, bulling, violência sexual, timidez, problemas de socialização, problemas familiares.
Ideal para ler... Em momentos de reflexão, quando estiver com vontade de ler algo mais sério e também com tempo para perceber as nuances, os pensamentos, as lições de vida, as metáforas e detalhes por entre as páginas.
‘Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer’. O que para muitos deveria ser um discurso amigável, às pessoas como Melinda nem sempre acaba ajudando. ‘Sobrevivente’ do colegial - entre cheerleaders, novidades, hormônios, grupos e panelinhas - a estudante do colégio Merryweather vive às sombras dos colegas de turma (e pior: dos seus veteranos). Entrei no ensino médio com o corte de cabelo errado, as roupas erradas, a atitude errada. E não tenho ninguém com quem possa me sentar. Sou excluída. (página 16) 
Nem sempre foi assim. A ‘crise de sociabilidade’ de Melinda tem um motivo maior, guardado a sete chaves, que acaba se tonando o mistério da narrativa. Será que pode ler os pensamentos escondidos ali? E se pode, o que vai fazer? Chamar a polícia? Me mandar para um hospício? É o que eu quero que faça? Eu só queria dormir. O intuito de não conversar sobre aquilo, de silenciar a lembrança, é fazer com que ela vá embora. (página 100) Durante as férias, uma festa entre os alunos do colégio Merryweather mudou o rumo da vida da garota. Alguma atitude dela, nesse evento, causou bullling, indiferença e exclusão... E, para agravar a situação, sempre encontram maneiras de perturbá-la (já que as pessoas que estavam lá ‘esbarram’ com ela todos os dias, nos corredores, intervalos de aula, dentro da sala e horário do almoço).Você não entende, responde uma vozinha na minha mente. Pena que ela não pode ouvir. Minha garganta começa a apertar e fechar, como se duas mãos com unhas pintadas de preto estivessem agarrando a minha faringe. Eu tinha feito um megaesforço para me esquecer de cada segundo daquela maldita festa, e cá estou eu, no meio de uma galera hostil, que me odeia por causa do que eu tive que fazer. (página 42) 
Para entender o desenvolvimento e a personalidade de Melinda, é preciso analisar alguns personagens da história: um lado que acentua seus problemas - os pais, que não dão suporte necessário A minha família tem um esquema interessante. A gente se comunica por meio de bilhetes no balcão da cozinha. Eu anoto quando preciso de material escolar ou de uma carona até o shopping. (página 28) e o outro lado que atenua as dificuldades que enfrenta - o professor de artes - que, através de suas aulas, contribuiu para o crescimento (psicológico) da estudante. Ele está curvado sobre um pote girando, as mãos avermelhadas, por causa da argila. - Bem-vindos à única aula que vai ensiná-los a sobreviver - diz o professor. - Bem-vindos à Arte. (página 23) 
Em linguagem extremamente delicada, a personagem nos envolve em uma narrativa misteriosa (com uma pitada de drama e melancolia). O livro não é de todo triste, porque ela tem um tom irônico em sua fala, com observações detalhistas, engraçadas ou fofas - como: [sorrindo com a boca, mas não com os olhos]. (página 126) ou Eu curto demais cheeseburger para ser modelo. A Heather parou de comer, reclamando da retenção de líquido. Devia se preocupar mais com a retenção de cérebro, do jeito que a sua dieta rígida está consumindo sua massa encefálica. (página 101) 
A leitura, se por um lado é rápida - fluida - porque os capítulos têm uma série de subtítulos que dividem bem os momentos, por outro lado toma tempo, já que a narrativa é ‘parada’ - sem aventuras ou pontos de ação. O mistério que nos prende é, portanto, um fato sensível e emocional. Fale! ainda conta com uma parte extra, no final do livro (sem falar na introdução emocionante...), com discussões e reflexões da autora acerca do tema, bem como uma entrevista sobre essa publicação (nos levando a entender o processo por trás das páginas!). Eu gostaria de pensar que, em uma pequena escala, Fale! os está ajudando a encontrar suas vozes. Mas esta obra é só um instrumento. Os verdadeiros heróis e heroínas são os que olharam para dentro de si - para além do medo, da vergonha, da depressão e da raiva - e criaram CORAGEM para contar as suas histórias. Tenho o mais profundo respeito por elas. (Nota da autora, página 5) Fale! é uma experiência delicada e um convite à descoberta de todas as vozes que estão presas dentro de nós e almejam (ou precisam) sair. ♥

Vocês gostariam de ter voz para exteriorizar ou compartilhar algo que tenha acontecido?

Eu deveria, talvez, contar para alguém, simplesmente contar para alguém. Dar um basta nisso. Desabafar, soltar o verbo, por para fora o que aconteceu. (Laurie Halse Anderson, trecho do livro ‘Fale!’, página 119)


Resenha : Passarinha .

* Resenha : Passarinha .
Título: Passarinha
Autora: Kathryn Erskine
Editora: Valentina
Número de páginas: 224
‘Passarinha’ é narrado por Caitlin, uma garota de dez anos, autista. Portadora da Síndrome de Asperger*, Caitlin demonstra uma persistência inquestionável e suas características (próprias da síndrome) são bem trabalhadas pela autora durante o livro. Muito habilidosa com desenhos, ela não gosta de cores porque o encontro delas (as cores) é algo muito confuso e inesperado. Por nunca saber ao certo que tom elas adquirem quando se misturam, ela prefere seu ‘mundinho’ preto e branco. Além disso, Caitlin se mostra um tanto impaciente, introspectiva e possui certas manias (como chupar o punho da blusa, ou tremer as mãos, ou fazer bicho de pelúcia). São características muito singulares, aos poucos desvendadas no decorrer da narrativa. Meus olhos estão quentes e coçando e tudo está embaçado por isso lembro uma coisa legal que sei fazer que é borrar as cores e formas para elas ficarem macias e quentes em vez de duras e frias. Chamo a isso de fazer bicho de pelúcia. (páginas 35-36)

*Síndrome de Asperger: um tipo de autismo a qual confere à pessoa portadora a dificuldade de interação social, dificuldade em processar e expressar emoções, interpretação muito literal da linguagem, entre outras características.
Lançamento da editora Valentina, ‘Passarinha’ é marcado por pequenos encantamentos: na linguagem, nas personagens, nos trechos simples e diálogos cotidianos que ‘trabalham’ a própria percepção do leitor. Pois este é um romance verdadeiramente simbólico, onde tudo é parte de um mesmo holograma e faz profundo sentido. O que lhe confere uma grandeza única. (página 9) Caitlin aprende, pouco a pouco, que nem tudo tem um sentido literal, e enquanto ela trabalha em questões como finesse, empatia, ‘Olha Para A Pessoa’, ‘Sua Educação’, ‘Captar O Sentido’ e fazer novas amizades para melhorar a si mesma, aprende mais sobre o convívio com outros. A Sra. Brook diz que a gente pode falar com ela a qualquer hora porque as suas portas estão sempre abertas. Na verdade ela só tem uma e está quase sempre fechada. Mas quando a gente bate ela lembra de abrir. (página 17)
As dificuldades de Caitlin são amenizadas pelos sábios conselhos e ajudas de seu irmão mais velho, o Devon. Isso, até o massacre no Colégio Virginia Dare (que foi um fato real, nos EUA, em 2007), onde o assassinato de uma professora e dois estudantes (dentre eles, Devon) devastou a população daquela cidade. Após a morte do irmão e desde o ‘Dia Em Que A Nossa Vida Desmoronou’ (= Devon faleceu), Caitlin lida com a própria dor que sente, pela falta do irmão, e o pai viúvo, que constantemente chora pelo sofrimento de tal tragédia. 

*A autora Kathryn Erskine escreveu ‘Passarinha’ sensibilizada pela tragédia real do massacre no Colégio Virginia Dare. Porém, os personagens (e respectivas histórias) são fictícios.
No meio disso tudo, Caitlin recebe orientações da bondosa Sra. Brook, na escola, mas mesmo assim ‘sofre’ um pouco porque não tem muita direção do pai, que tanto sofre pelo filho, e também demonstra constantemente o quanto sente a falta de seu irmão. Certo dia, o ouvir a palavra ‘Desfecho’ numa matéria sobre a morte do irmão, no noticiário, se mostra intrigada com o significado da palavra, e procura um‘Desfecho’ para si, que talvez possa ser a solução e o sentido de muita coisa em sua vida.
‘Passarinha’ é um dos livros mais ‘açucarados’ que eu já li. Com uma narrativa essencialmente pura e inocente, é interessante pela doçura e espontaneidade, com doses moderadas de humor e trechos engraçadinhos (da própria autista Caitlin). Os sapatos dela continuam dando gritinhos enquanto cruzam o corredor por isso tenho que andar-correr para alcançá-la por causa do Não Corra Nos Corredores Da Escola. Qual vai ser o esquema agora? (página 57) Apesar de o livro tratar de um assunto sério, com olhares realísticos de desaprovação ou pré-conceitos de crianças (e adultos) sobre o autismo, a linguagem é superleve e fluida (e os capítulos são curtinhos!). É hora do recreio e acho que a Sra. Brook deve ter Asperger também porque ela é muito persistente e essa é uma das minhas habilidades. Ela cismou mesmo com aquela ideia de Vamos Fazer Amigos embora eu esteja deixando muito claro com os olhos que não estou mais interessada na conversa. (página 83) ‘Passarinha’ é mais um daqueles convites ao ‘novo’, ao ‘inusitado’, uma maneira de enxergar mais os outros, menos a nós, e compreender que cada um tem sua importância, seu jeito, seu traço especial. ♥

Vocês gostam desse tipo de leitura? Já encontraram um ‘Desfecho’ para sua vida?

Os olhos são as janelas da alma, diz o Sr. Walters. Quando você olha dentro dos olhos de alguém pode ver muito sobre a pessoa. (Kathryn Erskine, trecho do livro ‘Passarinha’, página 138)

Resenha : Deslembranças .

* Resenha : Deslembranças .
[Não tenho passado. Minhas lembranças estão no futuro]
Título: Deslembrança
Autora: Cat Patrick
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (bom)
Você se lembra de algum acontecimento marcante dos últimos anos ou tem lembranças de fases e momentos de sua infância? Bem, London Lane não. O passado e o futuro caminham juntos, como uma espécie de quebra-cabeça que precisa ser montado. Eu me lembro do que ainda vai acontecer. Lembro o futuro, mas esqueço o que já passou. Todas as minhas lembranças, boas, ruins, ou tanto faz, um dia vão se concretizar. (página 33) London é uma garota comum, de 16 anos, salvo um único detalhe: todos os dias e pontualmente às 04:33 da manhã esquece de todos, todos!, os detalhes de seu dia. Para manter a sua memória ativa sobre as coisas mais importantes, London escreve bilhetes para si mesma, antes de dormir, sobre alguns tópicos do dia (como tarefas da escola que precisam ser feitas, a roupa que vestiu, acontecimentos com amigos). De alguma forma, em meio a tantas emoções conflitantes, o sono segura minha mão e me puxa. E tudo o que não foi escrito desaparece. (página 39)
Portanto, assim é a rotina de London Lane: acorda, lê todos os seus bilhetes escritos na noite anterior, se prepara para o dia, vai à escola, faz suas atividades e no final da noite escreve tudo aquilo que ela precisa lembrar no dia seguinte, colocando os bilhetes em sua cabeceira para quando acordar. (...) sei que precisava ler isso hoje, e que vou precisar ler de novo amanhã. Para mim, ler é lembrar. (página 194)Além disso, London tem sim, lembranças. Mas, lembranças daquilo que ainda não aconteceu, e simlampejos do futuro sobre a sua vida, e sobre as pessoas ao seu redor.
A narrativa ganha um tonzinho de mistério quando London começa a ter lembranças ruins e perturbadoras sobre o seu próprio futuro. Somado a isso, imagens sobre o futuro de pessoas à sua volta que precisam ser analisadas com mais cautela. Além de sua mãe e da (única e) melhor amiga, JamieLondon conta com a ajuda de Luke (um garoto que conhece no colégio) para superar todas as suas dificuldades. — Não é a mesma coisa! — grito. — Você não tem ideia de como é esquecer completamente todos os dias. Acordo sem saber o que usei na escola no dia anterior, sem falar nas coisas idiotas que eu possa ter feito ou dito. Lembro-me de coisas que ninguém, ninguém, deveria ter que prever para si. Coisas horríveis. Coisas que vão acontecer comigo... (página 148)
O assunto central do livro é bem interessante. A autora propõe, através de sua escrita, uma série de reflexões em torno da anomalia psíquica que London enfrenta. Isso nos coloca ‘em sua pele’, enquanto lemos, compartilhando das aflições da personagem ao esquecer lembranças importantes de sua vida. Ao longo dos 48 capítulos, a história flui numa escrita leve, com algumas surpresas e o típico final‘interrogação’ (o que será que aconteceu?). A leitura é bem rápida (mesmo!) porque os capítulos são bem curtinhos. No final de ‘Deslembrança’, senti que faltou algo, porque talvez eu esperasse um pouco mais do livro em si. Porém, o que posso passar a vocês é a opção leve (apesar do tema) de leitura, com romance e uma boa distração com reflexões sobre as nossas atitudes e pensamentos .

Você tem boa memória? Gostaria de receber lembranças sobre o seu futuro?



— Ah, tenho certeza de que todo o mundo tem seus dramas de cinema — diz ele de um jeito que me dá a impressão de que consegue ver minha alma. (Cat Patrick, trecho do livro ‘Deslembrança’, página 70)

Resenha : Claros sinais de loucura .

* Resenha : Claros sinais de loucura . 
[Às vezes a gente faz coisas estranhas e depois fica se perguntando o motivo, enquanto o ventilador de teto gira lá no alto. E, se faço coisas estranhas, isso significa que vou acabar louca como a minha mãe? -página 35]

Título: Claros sinais de loucura
Autora: Karen Harrington
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (muito bom)
Algumas loucuras contagiam, transcendem, passam de mim para você... De você para mim! Mas, se isso fosse *mesmo* uma regra, Sarah Nelson estaria perdida... E desolada! Você nunca conheceu alguém como eu. A menos, é claro, que conheça alguém que tenha sobrevivido a uma tentativa de afogamento pela própria mãe e que agora more com o pai alcoólatra. (página 9) Filha de pais com problemas psicológicos, procura sinais (aos 12 anos) de que ela mesma poderia render-se à loucura - especialmente - à da mãe.
Criada sem a figura materna, separadas após uma trágica tentativa de [a mãe] afogar Sarah e seu irmão gêmeo (que morre aos dois anos neste ato da mãe), Sarah tem que aprender a conviver com o pai alcoólatra, os jornalistas que insistem em lembrar do caso e o anonimato de sua mãe, internada desde o ocorrido. Jane Nelson é minha mãe. Se fizer essa busca, o resultado no Google vai ser: ‘Aproximadamente 821.000 resultados’. Dá para ver que o caso ficou bem famoso na internet. (página 14)
As palavras são pontos de fuga para Sarah, que ‘cultiva’ palavras preferidas e palavras-problema, além de conversar com uma planta e manter dois diários - são alguns elementos que a tiram da realidade difícil que, aos doze anos, enfrenta. O nome do meu irmão é Simon. Só eu estou aqui, viva e contando mentiras. Minha mãe não está morta, só em isolamento. Meu pai bebe. Tenho dois diários. Converso com uma planta. Tenho medo de fazer um trabalho de árvore genealógica e estou tentando imaginar um jeito de pular o sétimo ano. (página 96) Felizmente, há pessoas como Sra. Dupre que tornam as coisas mais fáceis, uma personagem bastante especial (para mim) e fofa na narrativa.

— Se a senhora tivesse uma filha, o que diria a ela?
A Sra. Dupre sorri.
— Ah, deixe-me pensar — responde. — Bem, eu diria: sempre que comprar uma blusa nova ou algum creme para ficar bonita, vá e compre um livro na mesma hora. Também é importante embelezar a mente, não acha? (página 176)
‘Claros sinais de loucura’ ainda conta com aquela metalinguagem que a gente ama: livro falando de livro. Nessa narrativa, Sarah menciona *muito* seu livro preferido (que é, de fato, um livro que existe! YAY!): o clássico da literatura norte-americana ‘O sol é para todos’, de Harper Lee, publicado em 1960. Sarah chega a escrever várias cartas para seu personagem preferido (o advogado Atticus Finch), além de escrever à própria autora do clássico. As palavras rodeiam mesmo a vida de Sarah. Se quer saber, uso tanto meu dicionário que as páginas estão finas e macias. Minhas palavras favoritas estão destacadas em azul. Meu pai odeia que eu escreva nos livros, mas amo palavras de todos os tipos, então é isso que acho que devo fazer. (página 18)
Apesar de os fatos principais da narrativa serem polêmicos - os problemas psicológicos dos pais - a leitura é leve (muito mais do que eu imaginei), com alguns pontos de reflexão e umas pitadas de momentos tristes (como é de se esperar). A protagonista, Sarah, procura deixar tudo mais calmo na maior parte do tempo. Apesar de ser dramática, tem boas linhas de raciocínio e -claro! - um pouco da inocência da idade (por isso a leveza do livro). Não é uma leitura de ‘aventuras e emoções máximas’ (como seria um ‘Jogos Vorazes’ ou um ‘Divergente’); É mais delicado (e um pouquinho mais parado também). A leitura é rápida porque os capítulos são curtos (acaba fluindo!). Corajem, crescimento e descobertas de uma pré-adolescente [menstruação, primeiro beijo] sobrepõem-se, às vezes, à loucura da mãe e ao alcoolismo do pai. Descobri que é preciso escolher ter coragem todos os dias, como se escolhe a camisa que vai vestir. Não é automático. (página 235) ♥

Vocês têm alguma ‘loucura’? Já ouviram falar deste livro?

Às vezes a gente descobre uma palavra nova e pensa: onde você esteve minha vida inteira? (Karen Harrington, trecho do livro ‘Claros sinais de loucura’, página 166)

Resenha : Divergente .

* Resenha : Divergente .
[Em nossas facções, encontramos sentido, encontramos propósito, encontramos vida]
Título: Divergente
Autora: Veronica Roth
Editora: Rocco
Número de páginas: 504
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (excelente!)
A sociedade é dividida. Fazemos parte de uma série de fragmentos que nos moldam e, no fim, acabam formando uma unidade: nossa cidade, estado, região, nação. Todos nós fazemos parte de grupos: no trabalho, em escolas de artes, na faculdade, em clubes, igrejas... Pessoas se encontram e convivem entre si, unidas por talentos e interesses. Mais ou menos nesse contexto, em ‘Divergente’, surge uma Chicago futurista dividida em cinco facções. Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição— Trabalhando juntas, as cinco facções têm vivido em paz há anos, cada uma contribuindo com um diferente setor da sociedade. A abnegação supriu nossa demanda por líderes altruístas no governo; a Franqueza providenciou líderes confiáveis e seguros no setor judiciário; a Erudição nos ofereceu professores e pesquisadores inteligentes; a Amizade nos deu conselhos e zeladores compreensivos; e a Audácia se encarregou de nossa proteção contra ameaças tanto internas quanto externas. (página 49)
Beatrice (ou Tris), a protagonista, é uma de jovem de 16 anos, nascida na Abnegação. Acostumada a viver ‘em paz’, morando com os pais e o irmão Caleb, Tris se vê na difícil missão de escolher a facção que norteará os dias de sua vida. Todos os jovens, aos 16 anos, submetem-se a um teste de aptidão que indicará (de acordo com as suas características, habilidades e personalidade) uma facção que melhor corresponde a eles. — Beatrice — diz ele, fixando meus olhos. — Devemos pensar em nossa família. — Há algo de estranho em sua voz. — Mas também devemos pensar em nós mesmos. (página 42) Independente do resultado do teste, ou da facção que a família pertence, o jovem tem a liberdade de escolher a facção que deseja durante a Cerimônia de Escolha. Uma vez selecionada, a decisão não pode ser voltada atrás. Todos vivem de acordo com a afirmação ‘Facção antes do sangue’, uma espécie de lema levado muito a sério.
O interessante é que cada uma das facções contam com uma qualidade bem característica dos membros enquanto, por outro lado, transparecem defeitos bem fortes dos próprios membros.
— Você tem medo de altura — digo. — Como você consegue sobreviver no complexo da Audácia?
— Eu ignoro o medo — diz ele. — Ao tomar decisões, finjo que ele não existe. (página 156)
Tris, atordoada pelo resultado incomum de seu teste, antes da Cerimônia de Escolha, entra numa espécie de confusão.
Após a cerimônia de escolha, todos os jovens devem passar por uma iniciação, com atividades próprias de suas novas facções (novas ou não, já que a pessoa pode continuar na facção em que nasceu!). No caso deTris, a iniciação compreende uma série de desafios, lutas, condicionamento físico e psicológico que acentuarão sua coragem e a sua habilidade de lidar com o medo. Depois de mais cinco tentativas, consigo acertar o centro do alvo, fazendo com que uma corrente de energia percorra meu corpo. Estou desperta, com os olhos bem abertos e as mãos quentes. Abaixo a arma. Há uma certa sensação de poder em controlar algo que pode causar tanta destruição, ou em controlar qualquer coisa, na realidade. (página 87) Todos os jovens transferidos para a Audácia são treinados pelo Quatro (e ‘Quatro’ é um apelido, não se preocupem... O verdadeiro nome seria spoiler eu dizer!).
‘Divergente’ traz uma série de personalidades fortes, que deixam a trama mais interessante e menosmimimi, com destaque para (dentre tantos personagens interessantes) o Quatro e a mãe da Tris que, junto à protagonista, desenvolvem uma série de diálogos inteligentes e reflexivos. — Ela apoia a mão no meu ombro que não está machucado e sorri. — Mas nossas mentes movem-se em dezenas de direções diferentes. Não podemos ficar confinados a uma única maneira de pensar, e isso apavora nossos líderes. Isso significa que não podemos ser controlados. E significa também que, não importa o que eles façam, nós sempre causaremos problemas para eles. (página 455)
Veronica (a autora) constrói uma narrativa inteligente, que muito se parece com a gente. Aliás, vai além: a autora nos descreve em linguagem figurada (e situações exageradas), que permite uma crítica à sociedade(especialmente às variadas formas de poder e autoridade). Distopias como ‘Divergente’ descrevem, com criatividade, uma sociedade que no fundo é óbvia... Mas que pode ser explorada das mais diversas formas — no caso, com direito a lutas sanguinárias, romance e muita reflexão. Acredito nos atos simples de bravura, na coragem que leva uma pessoa a se levantar em defesa de outra. É uma linda maneira de se pensar. (página 219) ‘Divergente’ é uma descoberta, um chamar a atenção: a nós mesmos e aos outros; explora questões como escolhas, governo, desafios, tradição com, claro, uma pitada de romance. ♥

Se a sociedade fosse dividida em cinco facções, a qual grupo você pertenceria?

A sensação é de rompimento, como uma folha separada da árvore que a sustenta. Somos criaturas da perda; deixamos tudo para trás. (Veronica Roth, trecho do livro ‘Divergente’, página 500)

Resenha : Se eu ficar .

* Resenha : Se eu ficar .
[Não estou certa de que este é o mundo ao qual pertenço. Não tenho certeza se quero acordar. -página 137]
Título: Se eu ficar
Autora: Gayle Forman
Editora: Novo Conceito
Número de páginas: 224
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (bom)
Assuntos abordados: música, escolhas/ decisões/ autoconhecimento, tribos e relação familiar, romance e drama
Ideal para ler... Com bastante tempo, sem pressa para notar as reflexões e compartilhar de todos os sentimentos da leitura envolvente.
Mia ainda está no chão, envolta pelo ar gelado do dia, mas consegue ouvir a música que tocava quando ainda estava tudo bem (e seu coração era definitivamente mais aquecido do que está agora). É que um típico ‘dia de neve’, como se costuma dizer na tradição norte-americana, acaba tomando proporções catastróficas. Você jamais esperaria que o rádio continuasse funcionando depois do que aconteceu. Mas ele continuou. O carro é destruído. (página 16) 
O dia gelado de fevereiro que cancelou as aulas do colégio e fez a família de Mia, uma garota de 17 anos, sair com o irmão mais novo e os pais para visitar amigos da família tornou-se verdadeiro drama quando um caminhão (a cem quilômetros por hora) vai de encontro ao carro em que estavam. O acidente - de alguma forma - ainda a deixa consciente de tudo o que acontece a sua volta, ainda que ela não consiga sentir nada.Começo a desviar a minha atenção e a me questionar sobre qual é o meu estado. Se não estou morta — e o monitor que acompanha os batimentos cardíacos continua apitando, então suponho que não morri —, mas não sou eu quem está no meu corpo, então, será que posso ir para outro lugar? (página 39)
*Como poderia ser a sensação de ter o instrumento na mão e não poder (ou conseguir) tocar a música?* Às vezes você faz escolhas na vida e outras, as escolhas vêm até você. Faz sentido para você? (página 159)

Mia - e sua família - é apaixonada por música. Violoncelista desde muito nova, é amante de música clássica: um contraste para os pais modernos e bem humorados, verdadeiros adoradores de punk-rock. Às vezes, eu realmente me sentia como se pertencesse a uma tribo diferente. Não era nem um pouco parecida com o meu pai extrovertido e irônico, nem com a minha mãe durona. E para completar, em vez de aprender a tocar guitarra, escolhi violoncelo. Porém, na minha família, saber tocar um instrumento era ainda mais importante do que o tipo de música que se tocava. (página 23) Muitos personagens da narrativa — incluindo o Adam, namorado roqueiro de Mia — têm uma estreita relação com a música, fazendo, dessa paixão, certo ‘impulso vital’.
Os conflitos de Mia, após o acidente, são contados no hospital. Em meio a esse ambiente — enfermeiras, aparelhos, cirurgias — conhecemos os personagens da narrativa (os que a visitam, principalmente) junto às memórias resgatadas pela personagem. A história é dividida por intervalos de horários nas 24 horas seguintes ao ocorrido. Mia conta tudo o que vê no hospital (presente), além das lembranças (passado) e sentimentos com relação a sua vida, seu estado e sua ‘luta’ para viver (futuro). A autora utiliza-se de uma série de reflexões, angústias e incertezas da Mia para trabalhar a questão do passado, presente e futurona narrativa. Os três tempos são construídos de forma bem desenvolvida e dinâmica, cumprindo com muito êxito o papel de manter o mistério da história, organizar os acontecimentos, entender o emocional da personagem, talvez ajudá-la em suas inquietações. Será que ela conseguiria mesmo ficar? Talvez se eu tivesse mais prática, talvez se eu tivesse passado por outras situações difíceis em minha vida, estaria mais preparada para seguir adiante. (página 181)
O ritmo de leitura do ‘Se eu ficar’, pelo menos para mim, tornou-se um pouco cansativa e maçante. Talvez pela profundidade e dramatismo da história. Mesmo (eu) amante de dramas, senti certo ‘peso’ e acabei finalizando a leitura após várias pausas e intervalos (durante a semana), o que me desanimou quanto às expectativas iniciais. Quero quebrar as portas automáticas. Esmurrar o balcão das enfermeiras. Quero que tudo se acabe. Quero o meu fim. Não quero ficar aqui. Não quero este hospital. Não quero ficar neste estado suspenso em que posso ver as coisas acontecendo e tenho consciência do que estou sentindo, sem, de fato, sentir. (página 134) A edição do livro traz trecho exclusivo do livro da continuação, além de entrevistas realizadas pela autora com os atores Chloë Grace Moretz e Jamie Blackley (que ganharam os papéis principais na versão cinematográfica ‘Se eu ficar’).
O conjunto de instrumentos determina a música. Eles, assim como alguns elementos que possuímos diariamente — trabalho, escolhas, hobbies, estudos, atividades, personalidade, metas, sonhos — decidem o que será tocado. Mais ou menos com a vida. Nós também temos alguns recursos; Tocamos bossa nova, rock ou axé. Gayle Forman, a autora, escolheu uma melodia (constantemente) lenta e suave. Se o livro fosse uma música, talvez arriscasse dizer ‘alguma da Lana Del Rey’, mas não vou restringi-lo a um cantor ou letra. ‘Se eu ficar’ é uma composição que deve ser tocada por cada um conforme a sua reflexão e o seu envolvimento com a narrativa.

Vocês curtem ler drama? Qual seu gênero musical preferido?

Não deveria me importar. Não deveria ter tentado tanto. Percebo agora que morrer é fácil. Viver é que é difícil. (Gayle Forman, trecho do livro ‘Se eu ficar’, página 145)